O Ministério Público Federal (MPF) vai acompanhar de
forma conjunta, integrada e em âmbito nacional os contratos de concessão de
rodovias a partir da estruturação de uma ação coordenada composta por sete
procuradores da República. A iniciativa é liderada pela Câmara de Consumidor e
Ordem Econômica (3CCR/MPF) e integra o Projeto MPF Cidadão 30 Anos, que
destacará a atuação da instituição em diversas áreas temáticas ao longo de
2018.
Em reunião realizada em Brasília em 22 de fevereiro,
discutiu-se os principais problemas relacionados às concessões da terceira
etapa do programa do governo federal - que são o foco do trabalho da ação
coordenada. Os contratos de concessão rodoviária, que foram firmados entre 2013
e 2015, previam a duplicação completa de relevantes trechos concedidos em até
cinco anos. O prazo, no entanto, poderia ser alterado para permitir que os
investimentos ocorram em até 14 anos, conforme previa a Medida Provisória
800/2017, que perdeu a validade no último dia 26.
“A medida provisória, além de alterar contratos
vigentes, introduzindo elevado risco moral nesse setor, imputa o ônus da
reprogramação dos investimentos ao consumidor, que continuará a arcar com as
tarifas sem a incidência imediata do redutor tarifário originalmente previsto”,
avalia o coordenador da 3ª Câmara, subprocurador-geral da República José
Elaeres Teixeira. Para ele, as negociações sobre eventuais reprogramações
contratuais precisam ser discutidas de forma transparente, a partir de
critérios claros e objetivos, e pautadas pelo interesse público.
Estratégias - Com a articulação da ação coordenada,
a atuação do MPF seguirá estratégias e diretrizes definidas conjuntamente entre
os procuradores, conforme estudos feitos pela 3CCR. Haverá, também, uma
concentração de esforços no acompanhamento dos casos concretos, a partir da
interlocução com os principais órgãos envolvidos.
“A iniciativa terá uma extensa agenda de atuação e
pretende dar continuidade ao diálogo com outros órgãos, como Tribunal de Contas
da União (TCU), Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e Ministério
dos Transportes, para firmar a posição do MPF sobre os contratos e suas
possíveis reprogramações de investimento”, afirmou o coordenador do colegiado.
O foco das ações serão as concessionárias MGO,
Concebra, MS Via, CRO e Via 040. Apesar de a MP 800 não ter sido convertida em
lei, a ANTT aprovou termos aditivos suspendendo as obrigações contratuais da
CRO e Concebra, na véspera do término da vigência da medida provisória, em 21
de fevereiro de 2018. No bojo da Ação Coordenada, foi solicitada à agência a
cópia integral dos processos, os primeiros casos concretos fruto da medida
governamental.
Contratos – Os contratos de concessão exigem que as
empresas entreguem 100% da duplicação dos trechos definidos nos contratos em
até cinco anos, sob pena de aplicação de sanções contratuais e, inclusive,
redução das tarifas de pedágio. Com as alterações previstas na MP 800/2017, os
investimentos seriam realizados em prazo superior ao contratado pela
Administração e o impacto desse adiamento, reduzindo os valores dos pedágios
cobrados dos usuários, só ocorreria após o término do novo cronograma das
obras. O governo federal, ao editar a MP, alegou que as concessionárias
precisam de um novo prazo para concluir as obras de duplicação, devido à
desaceleração da economia e dificuldades de obtenção de financiamentos.
Em dezembro do ano passado, a 3CCR enviou à ANTT e
ao Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil (MTPA) uma série de
questionamentos a respeito da medida provisória. José Elaeres também esteve na
ANTT para participar de audiência pública que pretendia discutir minuta de
resolução para regulamentar o uso da MP e, na ocasião, alertou que é preciso
esclarecer se a reprogramação de investimentos é a melhor alternativa para
resguardar o interesse público.
Custo Brasil -
O MPF alerta que a falta de segurança jurídica e de estabilidade
regulatória – provocada por alterações legislativas – está entre os principais
fatores destacados como “Custo Brasil” e gera a percepção de risco, o que acaba
sendo precificado pelos agentes econômicos e influencia a decisão de investir
ou não no mercado brasileiro.
"A ampla e irrestrita renegociação de contratos
de concessão contribui para a elevação da percepção de insegurança jurídica no
ambiente regulatório brasileiro e imputa elevado risco moral aos atuais
contratos, uma vez que todas as concessionárias terão menos incentivos para
cumprir suas obrigações", alerta a Câmara de Consumidor e Ordem Econômica.
Segundo entendimento do órgão, a regra geral a ser observada pela administração
pública é a de que os contratos firmados devem ser cumpridos e, em caso de
inexecuções, contratados devem sofrer as devidas sanções.
Planejamento e coordenação - O coordenador da
Câmara, José Elaeres, explica que a ação coordenada dá concretude ao
direcionamento estratégico estabelecido pela 3ª Câmara, de "promoção da
segurança jurídica para contribuir com a redução do “Custo Brasil”, a melhoria
da infraestrutura e a oferta de serviços de qualidade, com vistas a realizar o
bem estar do consumidor”.
Integram a ação coordenada de rodovias: o
coordenador do Grupo de Trabalho Transportes, Thiago Lacerda (PR-SP); e os
membros Antônio Canedo (PR-RJ), Frederick Lustosa de Melo (PR-DF), Gustavo
Nogami (PR-MT), Pedro Paulo Grubts Gonçalves de Oliveira (PR-MS), Thales
Cardoso (PR-MG) e Fernando Martins (PR-MG).
MPF Cidadão 30 anos – Em outubro de 2018,
comemora-se o aniversário de 30 anos da Constituição Federal de 1988, que
conferiu ao Ministério Público brasileiro seu atual perfil institucional. O
projeto MPF Cidadão 30 anos tem o objetivo de marcar a data e destacar, ao
longo de todo o ano, as muitas atribuições e áreas de atuação do órgão. Serão
realizadas atividades como seminários, debates e eventos, ações coordenadas,
campanhas e ações de comunicação social. Ao fim do projeto, espera-se ter
oferecido aos cidadãos serviços e informações que traduzam o que o Ministério
Público Federal faz, como atua e quais os resultados do trabalho em defesa dos
interesses e dos direitos da sociedade brasileira. SCS / MPF
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